On melancholy hill.
Desde que saí de casa, tenho pensado muito nos meus pais. Eu sou filha única, eles estão na casa dos 50 e, apesar de ainda me terem de sustentar financeiramente, eu começo a ter a minha vida de independência. Ficaram sozinhos naquela casa, que lhes parece tão vazia e tão silenciosa. Cai a noite e não me ouvem a subir as escadas, nem a falar alto demais ao telemóvel, nem os meus filmes na televisão. Voltaram, de certa forma, ao início, à vida de casal pura. Apesar de estarem constantemente preocupados comigo, como se eu nunca tivesse ido embora, são só os dois.
Fico melancólica a pensar nisso, a passar na minha cabeça o filme da reforma deles. O meu pai rodeado dos clássicos, com os óculos na ponta do nariz (e ainda no mesmo estado de mau trato que hoje), a falar de horticultura e política, a pensar num jantar gourmet que acaba por ser empadão de atum. E a minha mãe, exausta de anos e anos de uma vida profissional caótica, com o tricot sobre as pernas, a assentir calmamente, o mesmo casaco de malha roxo de há vinte anos, chá de limonete à cabeceira.
(E o estaminé está em destaque. Primeiro destaque no Situação Crítica, terceiro em toda a minha vida bloguística. Muito, muito obrigada.)