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Situação Crítica

Situação Crítica

13/07/14

Sabedoria festivaleira - o masterpost


  1. Ver os Arctic Monkeys ao vivo não é um concerto, é uma experiência sexual.

  2. Não há escapatória: por muito que se tente fugir, há sempre um homem suado e semi-nu nas redondezas.

  3. Também é impossível evitar a miúda tão sob a influência de coisas variadas (nem quero saber quais) que passa o tempo todo a dançar de forma desagradável e expansiva, a ocupar o espaço alheio, mas que provavelmente nem sentiria a rasteira que merecia.

  4. Há infinitamente mais contacto íntimo entre seres humanos do que o desejado.

  5. Tens dinheiro? Queres cerveja? Ah, tens 12 anos? No problem.

  6. Ir extremamente cedo para ficar a torrar ao sol durante horas não compensa.

  7. Há mais gente com GoPros do que com calções a tapar as nádegas.

  8. Sim, é possível escaldar as orelhas. Sim, é uma chatice.

  9. Às vezes é mais fácil entrar numa multidão do que sair dela.

  10. Se os festivais tivessem uma fragrância oficial, ela teria notas de suor, cigarros, cerveja e substâncias ilícitas.

  11. Gritos de elementos do sexo feminino são mais prováveis de causar surdez do que estar mesmo ao lado das colunas.

  12. Pés? Já nem os sinto.

  13. Não é fixe tentar parecer fixe.

08/07/14

Li e pensei coisas - Gone Girl & Dark Places

 

Na minha experiência enquanto leitora, é raro pousar um livro com a sensação acre de ter um profundo ódio por todas as personagens que povoam o imaginário daquelas páginas. Mas é aquele ódio tão palpável e vibrante que se instala e que dá prazer alimentar. Apesar de pouco frequente, essa sensaçao persegue-me depois de ter lido Gone Girl e Dark Places, as duas obras mais recentes de Gillian Flynn. Li-os de uma assentada, um imediatamente depois do outro, ávida de qualquer coisa para encher o buraco que Gone Girl deixou na minha esperança na humanidade.

Digo isto já para que estas leituras não firam susceptibilidades desprevenidas: estes livros não são felizes. Não é algo que se leia para levantar o espírito, mas antes para concretizar um prazer negro de olhar para dentro do poço da mente humana e de ver que afinal a água não é tão límpida e imóvel como se pensava.

Gone Girl é a história de um Nick e Amy Dunne, um casal de escritores sediados em Nova Iorque que se muda para a América profunda depois de vicissitudes familiares e económicas. Na manhã do 5º aniversário do seu casamento, Amy desaparece sem deixar rasto - a porta aberta e o gato na rua - e Nick é rapidamente alvo das mais radicais acusações. Esta é a superfície aparentemente estável e transparente. Mas no fundo revolvem-se as lamas de coisas que ficaram por dizer e de histórias mal contadas. A água vai enturvando. Os temas são simples e clássicos: o casamento, o dinheiro, a cobardia, os elitismos sociais, a capacidade do ser humano de inflictir dor no seu semelhante, o preconceito, as más decisões, a honestidade (ou falta dela). Nada de novo, que não tenha sido analisado até se ver o osso, mas esta obra expõe-nos de forma tão crua que dói e nem sabemos bem onde, como ver alguém nu e ferido à chuva. Estas são páginas que exploram até que ponto vão as intenções humanas.

Dark Places, sendo semelhante ao anterior, ilumina um diferente conjunto de questões. Ben Day, de 15 anos, é preso pela chacina da mãe e de duas irmãs. Mal visto pela comunidade, com fama duvidosa, companhias pouco desejáveis, não deixa qualquer dúvida que é o resposável pela morte da família. 24 anos depois, Libby Day, a irmã mais nova de Ben e a única sobrevivente do massacre, revê o seu testemunho, peça central no caso contra o irmão. A história tem três pontos de vista principais, o de Libby, o de Ben e o da sua mãe Patty, mas a mensagem que trazem é a mesma: o ser humano é fraco, é imperfeito, e sabe que não tem redenção. Abordam-se outros temas, como a pobreza, a histeria dos rituais satânicos e a toxicodependência, que se conjugam numa trama que é maravilhosamente gráfica no seu carácter horribilis, profundamente perturbadora. 

A escrita de Flynn é um perfeito intermédio entre simples e complexo, que envolve sem darmos por isso, tão natural ao inserir o leitor no pensamento dos intervenientes na história. Chega a ser desconfortável a intimidade que temos com as motivações das personagens, como se estivéssemos a interromper um momento solene que não é nosso, nunca vai ser nosso. É um noir delicioso, quase vampírico na maneira que usa a nossa força vital e as nossas crenças contra nós ao alimentar as personagens. Não é para todos, mas abala as consciências de muitos, incluindo a minha.

 

(Ambos os livros estão a ser adaptados ao cinema. Podem encontrar aqui e aqui os trailers de Gone Girl, realizado por David Fincher.)

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